terça-feira, 7 de julho de 2009

A Espiritualidade a partir de Baixo

“Aquele que conhece seus pecados é maior do que aquele que, por sua oração, ressuscita um morto... Aquele que durante uma hora geme e suspira sobre si mesmo é maior do que aquele que instrui o mundo inteiro. Aquele que enxerga sua própria fraqueza é maior do que o que vê os anjos” (Lafrance, 1983: 11).

Desde criança aprendemos que para chegarmos a Deus é necessário percorrer um caminho, uma via espiritual pela qual precisamos passar. Aprendemos que a “oração” é o alimento necessário para o percurso deste caminho, e que o mesmo deve ser um caminho de ascese e de busca incessante pela perfeição. São nos ensinado práticas espirituais, como o jejum, a penitência, o rosário e a leitura da Bíblia, a qual aprendemos ser um instrumento pelo qual Deus nos fala. Pouco a pouco vai se formando em nós uma espiritualidade de cima, pautada na busca pelas coisas celestiais. Esta espiritualidade de cima começa pelos ideais que nós nos impomos. Parte das metas que o homem deve alcançar através da ascese e da oração. Porém, esta espiritualidade se não harmonizar-se com a “Espiritualidade de Baixo”, a qual dedicarei os próximos parágrafos, traz em si um grande perigo, quando nos identificamos com nossos ideais frequentemente reprimimos nossa própria realidade, se ela não estiver em harmonia com estes ideais.

A espiritualidade de baixo significa que Deus não nos fala unicamente através da Bíblia e da Igreja, mas também através de nós mesmos, daquilo que pensamos e sentimos, através do nosso corpo, da nossa sexualidade e afetividade, e ainda através de nossas feridas e de nossas supostas fraquezas. Ela começa quando começamos a nos auto-conhecer, a nos aceitar como somos, a reconhecer que não somos perfeitos, mas pecadores, que somos uma mistura de luz e trevas, de amor e ódio, de maturidade e imaturidade. E que diante de tudo isso Deus nos ama com amor incondicional, nos convida a percorrer um caminho de amor com Ele, olha para nós com um olhar de misericórdia. Mas, para percorrermos este caminho, é necessário arrancar as máscaras de santidade, de farisaísmo, de quem já é perfeito demais para reconhecer-se limitado. É necessário descer até as profundezas do nosso “eu”, onde habitam monstros interiores que não queremos encontrar, onde mora a inveja, o orgulho, o nosso temperamento descontrolado, a fofoca e tantos outros que gritam dentro de nós. Precisamos descer até nossa própria realidade e reconcilia-nos com nossa condição terrena, com o peso que nos puxa para baixo, com o nosso mundo sombrio. “A humildade é a coragem de aceitar a verdade sobre si mesmo” (Anselm Grün).

Reprimir o mal dentro do próprio coração leva-nos a demonizar os outros, começamos a enxergar nos outros aquilo que nós mesmos temos e não temos coragem de aceitar, projetamos as nossas sombras nos outros. Mas, quando somos humildes, reconhecendo de que barro somos feitos, começamos a olhar para o outro com um olhar diferente, e descobrimos que todos nós somos iguais: pecadores que precisam de conversão diária.

Deus nos ama! E é nesse amor que precisamos pautar nossa vida espiritual, ao colocar a espiritualidade a partir de baixo não quero de maneira alguma excluir a espiritualidade a partir de cima, pois, as duas são reciprocamente necessárias. Se caminho só na de cima, corro o risco de me tornar um “alienado espiritual” e se caminho só na de baixo, posso me tornar um “cristão psicológico”, mas se aprendo a harmonizar as duas dentro de mim, me torno eu mesmo e descubro o caminho que se chega a Deus. Deus caritas est! (Bento XVI)
João Paulo
Comunidade Obra de Maria
Etapa do Discipulado
Palmas / TO

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